segunda-feira, 21 de junho de 2010

O mestre morreu...

... e isso é por força destino natural, uma vez feito o que havia a fazer. O mestre fê-lo, em modo mais-que-perfeito.
Com o Levantado do Chão, em 1980, deu-nos a ler uma linguagem nova. E uma outra maneira de contar que os ouvidos já nos tinham esquecido, e da qual só restam reminiscências na oralidade popular mais funda. Com o Memorial do Convento, em 1982, passou literariamente a coisa a limpo, e entrou para a santíssima trindade da pátria literatura.
Já tinha passado a Viagem a Portugal, bem menos saudada do que merecia. E depois, com O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Evangelho segundo Jesus Cristo e o Ensaio sobre a Cegueira, pôs a ler-nos a Europa inteira, cheia de inveja de nós. Aconteceu-nos três vezes, ao longo da longa história.
Quanto ao resto, e respeitando os juízos divergentes, é mais efeito de inércias de mercado do que objecto relevante.
Em todo o caso, merecê-lo, agora, é connosco, fazendo o que nos compete. Mas não abundam as tradições positivas, e o que mais nos sobeja é o mau exemplo. A cabeça da República e a coroa da Monarquia nada prometem de bom. São as mesmas tradições da velha pátria galdéria, que o mestre desprezava e metem dó.