O compadre aparício trouxe há tempos o macaco da expo 98, haverá quem se lembre do acontecimento social que teve lugar ali na margem da doca dos olivais. Apareceu aí radiante com o exótico presente. O bicho era inteligentíssimo, e tinha formação como guarda-costas dum homem grande da tribo dos maconhas, nas traiçoeiras florestas do congo.
Sempre que o compadre estendia a rede entre os dois ulmeiros do quintal, para a grande sesta das duas, lá entrava de serviço o bodigarde. Perseguia as borboletas distraídas que vinham tropeçando na brisa, e as vespas que vinham no encalço das borboletas, e as lagartixas que corriam atrás das vespas de cabeça no ar, e as pequenas cobras que se divertiam a cortar o rabo às lagartixas, e ficavam a vê-los dançar a polca. Nos intervalos treinava a pontaria, atirando pedras aos pardais. Claro que tudo isto eram brincadeiras de criança para um rambo daqueles, habituado às emergências da floresta virgem. E o compadre aparício ressonava, sorridente como um anjo nos mirantes do céu.
Foi ontem que a desgraça aconteceu, e diz quem viu que tudo foi assim. Um moscardo poisou na testa do compadre, andava o macaco a afugentar um qualquer insecto secundário. Há quem lhe tenha vislumbrado na face um exótico brilho, mas ninguém o pode assegurar. Vendo de longe a iminência do perigo, e por certo sem medir as consequências, o cérbero investiu à pedrada. Com tanta eficácia que deixou a cabeça do compadre aparício aberta ao meio, pareciam duas metades dum melão espanhol.
Ainda estou a ver a satisfação do pobre compadre, quando chegou da expo. A contar-me a euforia do homem grande da tribo dos maconhas, todo contente por retribuir, enfim, o colar de missangas, que o vasco da gama lhe ofereceu quando passou no congo, há um ror de anos.
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