... é o que a tradição manda fazer, quando a dita é amargosa e o paciente se mostra relutante. Nos casos mais comuns, cuidados paliativos são um gesto caritativo.
Nisto, porém, a que se vai chamando a crise, o que seria caridade é um engano, se não é melhor dizer um logro e um embuste. E é-o por três motivos.
O primeiro, porque a situação de catástrofe geral em que o mundo se encontra, com a vida de todos nós à beira dum precipício incalculável, não resulta de qualquer imprevidência, de nenhuma distracção. E muito menos do acaso, da ordem natural das coisas, ou do azedume dum deus que acordou indisposto. Não são os recursos económicos do mundo inteiro que estão a ser sugados por um buraco negro. É uma quantidade colossal de riqueza que está a mudar de mãos. A catástrofe é assim porque alguém a engendrou, e a última década de criminosa governação americana não procurou outra coisa.
O segundo, porque esta gripe não vai lá com mezinhas nem papas de linhaça, pois não é duma crise que se trata. É todo o modo humano de organizar a vida, desde há mais de cem anos, que está a chegar ao fim: as energias fósseis ao preço da uva mijona, o desrespeito pelas normas da natureza, a distribuição a-racional dos recursos do planeta, a iniquidade imperial e nacionalista.
O terceiro, porque a ultrapassagem da crise não surgirá ao virar duma esquina, dentro de um par de meses ou quando mudar o ano, conforme nos prometem. Muito particularmente em Portugal, que só sairá da crise por arrastamento do que acontecer lá fora, haverá fogo e ranger de dentes para os próximos três a seis anos.
Isto se tudo correr pelo melhor! Porque a única moeda de troca do país é a penúria e o sofrimento. Conforme pensava, e melhor ainda punha em prática, um fantasma de Santa Comba Dão de que agora me lembrei.