terça-feira, 3 de março de 2009

O Amnésias

O padrinho Amnésias tem fachada de dois pôres, conforme as ocasiões. Quando a vida corre a gosto, põe o pôr de avô Cantigas. Dá um jeito no bigode e não há quem pegue nele. Priva com casas reais, vai ao golfe com a finança, emparelha com traficantes de armas, mata caça com cavalheiros de indústria, multiplica negócios, é um furor a produzir riquezas. Se o tempo vira de chuva, põe a caraça de Amnésias e não se lembra de nada.
Quando um dia o transformaram em ministro das polícias, o primeiro movimento foi telefonar ao pai. - Querido pai, já sou ministro! - Deu assim a novidade e confirmou a notícia, por temer que ninguém acreditasse. E o segundo foi mandar fazer uma estrada lá na terra, para cumprir a tradição e ter um lugar na história.
Acabou por entrar nela por causa duma batalha, a dos secos e molhados. Dum lado pôs os polícias que agitavam os crachás e queriam ter sindicato. Do outro pôs os restantes, armados de cassetetes, cães de guerra e canhões de água. Ou cães de água e canhoneiras de guerra, dá no mesmo! Foi uma verdadeira Aljubarrota, em que os santos e os heróis ganharam outra vez.
Mas foi ao ver os destroços que sobejaram no campo, que o Amnésias decantou a regra de ouro de um padrinho de sucesso. - Não confies à polícia pistolas sofisticadas, e muito menos viaturas eficazes! Um dia podem vir atrás de ti!
Suprema sabedoria, que nunca mais esqueceu.