IDEIAS FIXAS
Ainda ontem era governante e já hoje pagaria para o não ser. Que desabou a máquina do mundo e a coisa é de arrecear. O presidente em sítio num quartel, o ministro descomposto, a secretária apavorada ao telefone. Há blindados a galopar nas ruas, multidões em alarido, comunicados na rádio que ninguém autorizou...
O homem deixou de entender o mundo mas é secretário de estado. E o presidente reclama, na emergência, que alguém lhe desencante um interlocutor. Algum general de peso, não caia o poder na rua, tão frágil que é, o poder.
Arrisca até à praça sublevada, forceja entre a multidão, chega à fala com um soldado que dispara um ultimato ao megafone.
– Sou secretário de estado, trago um mandato do presidente do conselho!
– Apresente-se no PC e exponha as suas razões!
O outro respondeu à continência e aguentou o abanão, mas esgazeia o olhar.
– Sempre são eles quem manda?!
O soldado abre um sorriso, dá ordens ao condutor, embarca o homem num jipe.
– Leva sua excelência ao posto de comando. Põe-me os olhos no caminho, que há gente de ideias fixas!
E esticou o prazo ao ultimato.