quinta-feira, 14 de março de 2013

HAJA LUZ! - 23

[Cratera do meteoro Barringer, no Arizona]
A Idade da Terra Revisitada
«(...) Holmes andava perto, mas não estava ainda completamente correcto. A metodologia estava certa mas faltava afinar o ponto de partida - a composição isotópica primordial do chumbo. A solução viria do espaço, na forma de meteoritos de ferro. Tudo indicava uma ligação genética entre a Terra e os meteoritos (que se confirmou). Terra, Lua, meteoritos, formaram-se na mesma altura. (...)
O meteorito escolhido foi um dos mais célebres - o do Canyon Diablo, causador da famosa cratera Barringer no estado do Arizona, há 20 mil ou 40 mil anos. Em Setembro de 1953 Patterson anunciava num congresso que a Terra tinha 4510 milhões de anos de existência. (...) O  valor hoje aceite é de 4.55 mil milhões de anos. Patterson cortara a meta, mas Holmes construíra a pista onde ele e vários outros correram. (...) "Ao olhar para trás, é uma pequena consolação, para as desvantagens da velhice, notar que a Terra envelheceu muito mais rapidamente do que eu - passou de cerca de seis mil anos, quando eu tinha dez anos (a estimativa do arcebispo Ussher) para quatro ou cinco biliões quando cheguei aos sessenta". (...)
E o Universo? O paradoxo é que, durante anos, mesmo décadas, muitos tiveram de conviver com o absurdo dum Universo mais novo do que a Terra! (...) O certo é que Georges Lemaître, sacerdote católico, astrónomo e professor de física na Universidade Católica de Lovaina, aplicou a teoria da relatividade geral de Einstein à cosmologia, tendo chegado à conclusão de que o Universo estaria em expansão. (...) Lemaître teve então oportunidade de explicar a sua concepção: o Universo ter-se-ia expandido a partir duma sigularidade inicial a que chamou o "átomo primitivo" ou primordial. Esta ideia de que tudo começara numa espécie de ovo cósmico que explodiu no instante inicial cheirava demasiado a Criação, para poder ser aceite sem reservas por físicos como Einstein e Eddington. (...)
A teoria de Lemaître acabaria por tomar o nome de teoria do big-bang, ou da grande explosão, um termo usado pela primeira vez em 1949 pelo cosmólogo inglês Fred Hoyle (...). O 'átomo' cósmico de Lemaître, que ele imaginava que tivesse várias vezes o tamanho do Sol, é agora um ponto - a ausência de espaço. (...)
Tudo começou, portanto, há cerca de 14 mil milhões de anos com um grande bangue, num ponto de densidade infinita e temperatura infinita. Depois, foi só uma questão de tempo... É o big-bang que marca a origem do tempo e o início do espaço. O Universo foi-se expandindo e arrefecendo, criando o espaço e começando a contagem do tempo, até atingir os actuais 3 kelvin ou K (uma temperatura de -270 ºC). (...). Para comparação, a menor temperatura registada até hoje à superfície da Terra é de -89.6 ºC (na Antárctida, a 21 de Julho de 1983; a temperatura média global à suaperfície de Marte é de 220 K, e a de Plutão é estimada em cerca de 40 K.
A evolução foi rápida. A história está contada num livro célebre de Steven Weinberg, professor da Universidade de Harvard e Nobel da Física em 1979, Os Primeiros Três Minutos (1977). A receita para a evolução do Universo é: expansão, arrefecimento, 'cozinhado' de partículas. Ao fim dum centésimo de segundo a temperatura era de cem mil milhões de graus, muito maior do que a temperatura no interior de qualquer estrela. (A temperatura no centro do Sol é estimada em 15 milhões de graus). Tão grande a temperatura, que não havia matéria tal como a concebemos hoje - apenas fotões de luz e algumas partículas mais pequenas como os electrões, os positrões e os neutrinos. (...)
Ao fim dum segundo, a temperatura já era de dez mil milhões de graus. Aos catorze segundos, quando a temperatura era de três mil milhões de graus, dois protões e dois neutrões poderiam formar uma partícula alfa. Aos três minutos, a temperatura era de mil milhões de graus, possibilitando a formação significativa dos primeiros núcleos atómicos de hélio. Aos quatro minutos e novecentos milhões de graus, o deuterão é estável; um quarto da massa do Universo é hélio. Mas foi preciso esperar mais setecentos mil anos para que a temperatura baixasse até aos três mil graus, e os electrões pudessem juntar-se às partículas alfa e aos deuterões, para formarem os primeiros átomos neutros: hélio e hidrogénio. (...) Ainda hoje, noventa por cento do Universo é hidrogénio e nove por cento é hélio (...).»