quinta-feira, 14 de março de 2013

HAJA LUZ! - 24

[Teste da bomba de plutónio, em Trinity, 16 de Julho de 1945] 
« (...) O novo laboratório veio a crescer em Los Alamos, a cerca de 40 quilómetros de Santa Fé. Robert Oppenheimer amava o Sudoeste americano, o deserto e as suas mesas, e era aqui que passava as férias.(...) Aos poucos formou-se a maior concentração de talento científico que o mundo jamais conhecera ou viria a conhecer. De início seriam uns vinte ou trinta cientistas, depois centenas, e no fim mais de seis mil pessoas (dos quais cerca de quatro mil seriam cientistas e técnicos). (...)
Nunca será demais salientar a importância que imigrantes como Bethe, Fermi, Frisch, Peierls, Weisskopf, Szilárd, Teller, etc., fugidos aos odiosos regimes ditatoriais que tinham engolido a Itália, a Alemanha, a Áustria e a Hungria, tiveram na concepção e construção das primeiras bombas nucleares em Los Alamos. (...) Quanto à bomba propriamente dita, havia quem favorecesse um teste público que levasse os japoneses a renderem-se (a Guerra na Europa tinha terminado nos primeiros dias de Maio, com a derrota e rendição da Alemanha). O problema é que não havia a certeza de que qualquer das bombas funcionasse e explodisse. Vinte e oito meses após o começo das operações, a 16 de Julho de 1945, era ensaiada a primeira bomba (de plutónio). O teste esteve marcado para 4 de Julho - o Dia da Independência Americana - mas teve de ser sucessivamente adiado, por causa das tempestades eléctricas e das más condições atmosféricas. Teste e local foram baptizados de Trinity, ou Trindade. (...)
O teste realizou-se em Jornada del Muerto, uma área no meio do nada, a cem quilómetros de Alamogordo, no deserto do Novo México. Às cinco e meia da manhã, num ambiente da maior tensão, viu-se pela primeira vez aquela luz cauterizante, feitra de muitas cores, do dourado ao púrpura, ao violeta, ao cinzento e ao azul - uma luz mais intensa do que o sol do meio-dia. Ao mesmo tempo erguia-se uma nuvem em forma de cogumelo ou alforreca. Um escasso minuto depois, a onda de choque, furiosa como um tornado, apanhou alguns observadores desprevenidos. (...) A potência ultrapassara em muito o limite superior expectável das dez mil toneladas de TNT. Quanto ao estrondo, em vez do trovão apocalíptico esperado, ouviu-se um barulho que soava a tiro de pólvora seca, e que reverberou pelos montes e vales do deserto durante alguns minutos. Concretizava-se a profecia de T.S.Elliot (no poema Os Homens Ocos, 1925):

É assim que o mundo acaba
Não com um estrondo, mas com uma lamúria.

"A guerra acabou!", exclamaram alguns dos observadores do teste. (...) Para Oppenheimer, porém, a guerra tinha começado. (...) E assim foi. A 6 de Agosto de 1945, um bomba nuclear de urânio 235, com a alcunha de Little Boy, devastava Hiroshima (60% da cidade ficou destruída). Como o Japão não se rendeu, três dias depois os EUA bombardeavam Nagasaki, com um engenho de plutónio 239, com o nome de Fat Man, que deixou 40% da cidade em escombros. (...)»

[NOTA: Suspeita-se, cá em casa, que o real destinatário da mensagem nuclear era Moscovo. A Tóquio foi apenas enviado conhecimento, pessoal, oportuno e doloroso, da barbárie criminosa.]