terça-feira, 15 de março de 2011

Mais vale tarde... 4 - Os mercadores de canhões

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Enquanto os olhos do mundo se fixavam em Genebra onde prosseguiam os debates intermináveis, poucos percebiam que, de 1925 em diante, os delegados da indústria pesada francesa e alemã se encontravam regularmente, ora em Paris, ora em Berlim. Tanto a indústria alemã como a francesa sofriam grandes prejuízos em consequência da suspensão dos contratos de armamento, e em desespero buscavam meios de dar novo impulso aos negócios.
Isto não se podia fazer sem uma colaboração íntima. Em Maio de 1925 Arnold Rechberg, consultor dos
trusts de Hugenberg e Thyssen para as relações públicas, veio a Paris propor o equipamento, pela França, de um exército alemão de 800.000 homens, que devia marchar sobre a Rússia e destruir o regime bolchevista. O marechal Foch e o presidente Poincaré receberam o emissário alemão em companhia dos senhores Robert Pinaud e Charles Laurent, directores do Comité des Forges, o trust francês do aço. Aprovaram o plano, que fora meditado pelo general von Hoffman.
Ao cabo de vários dias de negociações, François Coty anunciou triunfante no seu jornal
Figaro, que Poincaré tinha aprovado um plano para estabelecer o condomínio franco-alemão sobre o vasto mercado russo. Não dizia, entretanto, que em face disto seria ridículo continuar a falar em desarmamento em Genebra. Foch aprovou, por seu turno, e Tardieu mandou Paul Reynaud a Berlim, para combinar os últimos pormenores. O plano foi inutilizado, disse depois Herr Rechberg, por Lloyd George, que temia a extensão da influência francesa na Europa. Mas já se havia estabelecido o contacto entre os fabricantes de canhões franceses e alemães. Nunca mais ele foi rompido. A indústria metalúrgica francesa consentiu no rearmamento da Alemanha já em 1925, como único meio de estimular o mercado interno francês. (...)
Paul Faure, deputado pelo distrito de Le Creusot, revelou no parlamento francês que Schneider-Creusot, o gigantesco trust francês de canhões, administrado pelos primos De Wendel, um dos quais era membro da Câmara francesa e o outro do Reichstag alemão, estava fornecendo fundos ao nascente partido nazi de Adolfo Hitler, e que Skoda, o trust checoslovaco de armamento, supria a Alemanha de artilharia, pólvora e cartuchos a crédito.
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