segunda-feira, 1 de maio de 2017

Plutocracia*

Li-o a primeira vez emprestado por um amigo, no Porto. Era ele um velho stalinista que só ouvia as prédicas do comité central, o que hoje se compreende muito bem. Mas depois tive que lho devolver. E foi num alfarrabista que acabei por encontrar o exemplar que hoje tenho em casa.
A minha leitura dele é agora diferente. Mas continua a ser instrutiva e cativante. Não é um manual de história de encartados, porque é melhor. Passa nele a vida das pessoas, a que tem sangue e lágrimas e dramas.
É a história duma loucura antiga, de há cem anos, que as elites repetem conforme lhes convém. Com dados novos, como era de esperar. 
" (...) Tinha imenso respeito a esses homens, que ousavam remar contra a corrente. Vejo agora que eles foram os legítimos heróis da guerra. Expostos ao opróbrio do mundo pelas nações cristãs, curtindo anos na cadeia e nos campos de concentração pelo crime de se haverem negado a assassinar, eram eles os verdadeiros campeões dos princípios cristãos mais básicos e essenciais. (...)
Das verdadeiras causas da guerra nada sabíamos. E esta foi uma das lições que me ensinaram as lancinantes experiências da guerra: o dever de revelar ao meu próximo o que me foi dado conhecer das engrenagens que provocam tais catástrofes. Os alemães não são mais bárbaros que os outros povos. A guerra não é consequência dos instintos bestiais do homem, mas o fruto de profundos antagonismos sociais, que opõem às forças naturais os interesses constituídos. Não só a guerra, como também a ruína e a decadência que feriram todas as nações após a guerra, são resultado do mesmo desajuste fundamental: a exploração duma maioria produtiva por uma minoria locupletada. (...)".
(NOTA: De facto, o conceito que parece abranger o essencial da questão aqui posta em causa parece ser o de plutocracia alienada dos povos, ainda em vigor.)