segunda-feira, 8 de maio de 2017

Estilhaços

Foi então, a meio duma tarde, que chegou um alferes do batalhão da Cuimba, com o pelotão de morteiros. Tinha um vago tique aristocrata, amamentava exóticas ideias monárquicas, e frequentava o quarto ano de medicina quando o despacharam para os sertões do  Congo.
Estacionou os dois burros do mato em frente do que sobrava da sé catedral resumida a umas paredes (o templo católico mais antigo a Sul do Equador!), mal saudou os aviadores que despejavam bidões de gasolina nuns aviões cobertos de poeira e dirigiu-se a casa.
A mulher era legista, praticava de notária, servia de magistrada. Morava numa casa da avenida e estava ausente em Luanda, na companhia dum alferes médico.
O artilheiro reuniu o pelotão, montou nos burros do mato e regressou à Cuimba. Mandou formar no meio do terreiro, meteu uma bala na câmara da Walther que lhe pendia à ilharga, e descarregou nos miolos os nove milímetros dela.
Uma semana depois a história já estava morta. Ninguém gosta de viver com estilhaços que matam.