sexta-feira, 12 de maio de 2017

Diagnóstico

" (...) Encontrar dois alemães na Legião Estrangeira nada tinha de extraordinário, a falar verdade. No tempo da República de Weimar nada menos de sessenta por cento do pessoal daquela brigada, eternamente em campanha, eram rapazes alemães. (...)
Eram de Stettin, ambos sub-tenentes na Legião, com dois anos de serviço em Marrocos contra os cabilas do Riff em seus assentamentos e três anos na Síria, para onde tinham vindo no tempo da revolta dos drusos. Um deles possuía a Croix de Guerre com diversas palmas douradas e o outro a Legião de Honra, conquistada au péril de la vie, dizia ele risonhamente. (...)
A conversa derivou para a Alemanha, a pobreza a que estavam reduzidos os parentes dos dois oficiais, a inflação, a acção de Herman Mueller  no Ministério dos Estrangeiros, o Presidente Hindenburgo e o nascente partido nacional-socialista. (...)
Nós perguntámos aos nossos dois companheiros por que se haviam alistado na Legião Estrangeira. Os legionários não gostam de falar nesse assunto. Esses homens têm em geral algum motivo oculto, completamente alheio ao desejo sentimental de aventura e romance, como gostam de imaginar os leitores de certo tipo de novelas. Essa unidade guerreira, cujo lema doméstico é Marche ou crève, unidade votada à missão impopularíssima de esmagar a resistência dos movimentos nacionalistas e patrióticos, perdeu há muito tempo o seu prestígio romântico. (...) E com efeito se Djemal Paxá pudesse oferecer-lhes pilhagem mais abundante do que os ingleses, eles teriam lutado do nosso lado. Mas nem a Turquia nem a Alemanha possuíam o ouro com que os ingleses carregavam caravanas inteiras, para conservarem a aliança dos xeques. (...)
Entretanto os operários dos populosos bairros de Wedding e Berlin-Ost tinham, por sua própria iniciativa, começado a rechaçar as tropas de assalto nas ruas. O instinto do povo não o enganava: chegara o momento de lutar, e lutar com afinco. Os operários exigiam acção. Mas nos círculos superiores do partido marxista reinava uma confusão inimaginável. (...) Os telegramas de Moscovo tinham recomendado cautela. - Que venha Hitler! Nós seguiremos Hitler! - disse Herr Thaelmann, repetindo o diagnóstico da situação feito por Stalin. (...)"
(Pág. 193 e seg.)