sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Precariedade flutuante

 São os ecos que me sobram da manhã. Uma amiga comprou um carro. Usado, conforme lhe convém mais. Tem cinco anos e 80 mil quilómetros, não está mal. Mas não sabe, nem poderá saber, nada sobre o seu estado de manutenção. O caderno respectivo é totalmente omisso. O vendedor é um facilitador do costume, conforme agora se diz. E ela sabe apenas meter a chave, pôr em marcha e logo vemos. A Ford distrital, que já houve antigamente, deixou de existir. Até haver uma nova, a Seat dá um jeito.
 Enquanto espero, oiço que a UTAO avisa: os cofres cheios que havia guardados no par de balões de hélio da loira dos SWAP'S afinal estão vazios. O défice ameaça ir muito além dos 3%, que são aleatórios, como já vimos um dia. Mas são.
O Costa enfrenta sorridente a moção de censura condenada à partida. Ninguém sabe para que é, mas é. O Passos nem sequer por uma vez chamou primeiro-ministro ao Costa, acusado de formar um governo nas costas do povo. Insiste em que o governo do Costa é ilegítimo.
O Portas, o do nariz aquilino, o dessa história escabrosa dos submarinos da Ferrostal, sentencia que o Costa está nas mãos dum politburo comunista, pobre dele. O Telmo Correia vocifera que o governo do Costa é uma tralha socrática, um projecto radical social-comunista.
O Correio da Manha diz que Soares foi apanhado no choque em cadeia da Vasco da Gama. O motorista bateu e fugiu, às ordens do ancião. No restante do jornal há crimes à discrição.
O BCE de Draghi vai disparar dinheiro até 2017, para aumentar a inflação. Na América, desta vez o massacre foi na Califórnia. Cantaram as M16, catorze morreram, 21 foram parar ao hospital.
Duarte Lima, o menino de coro da seita cavaquista, vai ser julgado à revelia num tribunal brasileiro, acusado do assassínio da viúva do Tomé Feteira, esse das limas antigas.
Sem dinheirama angolana, há empresas de comunicação a naufragar, e jornalistas no olho da rua. Mas o colunista João Pereira Coutinho rosna que o governo do Costa vai apenas despejar dinheiro sobre a economia, com o fino propósito de "contentar a manada e conduzi-la para os currais das urnas, quando a ocasião surgir." Eis um jornalista que resiste.
O CM vem inteiramente limpo do nome de Sócrates. É estranha esta limpeza, já que a figura de Sócrates é, há muitos anos, o seguro de vida do jornal, com a cumplicidade duns magistrados fora-da-lei. Nesta decadência em que caímos, até o ódio claudica.
Neste nosso "crepúsculo manso",*** não fora a fama que tem, alistava-me no DAESH. Mas lanço mão do bastão, para manter os cães na ordem. E enquanto corre a manhã vou-me a ler um perfil inglês do Marquês de Pombal, a ver se ajusto cá umas contas com o Camilo.
*** Na Europa em que estamos, Portugal é o país do crepúsculo manso. (Eduardo Lourenço)