quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A Rattazzi


[Assim a viu o Bordalo Pinheiro]

Pelos finais de 1879, em Paris, era publicado o livro Le Portugal à vol d'oiseau, com o subtítulo Portugais et Portugaises, da autoria da Princesse Rattazzi.
Esse relato de viagem foi mais tarde editado em Lisboa, com tradução anónima. E o seu aparecimento provocou em Portugal vivas reacções, nem todas negativas. Delas sobressai a resposta iracunda de Camilo Castelo Branco, constante dum opúsculo que há-de andar ali desgarrado numa estante, com o sarcasmo temível de Camilo.
Camilo cujo Perfil do Marquês de Pombal há-de ser o seguimento destes prolegómenos. Lá iremos!
Transcreve-se aqui a Dedicatória da Rattazzi, essa pobre, a uma edição portuguesa.

«Que nome posso eu escrever no frontispício deste livro tão discutido?
A quem hei-se dedicá-lo?
A Portugal? Não ouso fazê-lo.
Notas de viagem, escritas consoante a fantasia de uma pena indisciplinada, não merecem decerto um tal padrinho.
Oferecê-lo, como homenagem afectuosa, a qualquer dos meus amigos seria falta de generosidade, por isso que equivaleria a condenar um inocentes aos transes afrontosos de uma vendetta implacável.
O meu livro não pode solicitar o beneplácito do país que admiro, nem o daqueles que louvei, nem o dos que amo.
Resolvo-me, por conseguinte, a pedir aos meus inimigos que se dignem aceitar a humilde dedicatória que lhes endereço.
Maria Letizia Rattazzi»