Com vénia ao dr. Luís Queirós
Presidente da Marktest e membro da ASPO Portugal
Durante muitos anos, os economistas persistiram na ideia errónea de que o capital e o trabalho eram os únicos factores da produção, e que eles, e só eles, determinavam o crescimento económico. Verificou-se depois que a fórmula era insuficiente. Era necessário algo mais para explicar o crescimento.
O economista americano Robert Solow, prémio Nobel em 1987, introduziu o factor tecnológico como forma de melhor justificar a evolução do PIB. Mas concluiu que existia uma parcela residual inexplicável. E foi Ayres, quando aportou o factor energético, quem resolveu definitivamente o problema.
Com efeito, Robert Ayres demonstrou que 75% do crescimento do PIB mundial pode ser explicado pelo crescimento do consumo energético, mais propriamente pela energia que pode ser transformada em trabalho, a exergia, como ele lhe chamou. Ayres, que além de economista era físico, inspirou-se nos princípios da termodinâmica para formular a sua teoria do crescimento.
Quatro são, pois, os factores utilizados para explicar o crescimento: o capital, o trabalho, a tecnologia e a energia. Para modificar a variável dependente desta equação (o crescimento), temos de actuar sobre alguma, ou algumas, daquelas quatro variáveis independentes que o explicam. E este é o desafio que o mundo enfrenta para sair da crise, para estimular a retoma, para relançar o emprego. Enfim, para regularizar as contas públicas sem ter de seguir pela via mais dura dos cortes salariais ou da subida dos impostos.
É cada vez mais evidente a importância do factor energia na equação do crescimento económico. Durante muitos anos, a facilidade de obtenção dessa energia camuflou e desvalorizou este factor. De alguma forma, pensava-se que o estímulo financeiro (injectando cada vez mais capital sob a forma de crédito) era suficiente para provocar o crescimento, e foi com esta receita que a economia cresceu durante o último século. A energia para sustentar esse crescimento aparecia sempre, parecia inesgotável. Mas foi também esta a receita que conduziu à crise em que agora estamos mergulhados.
Hoje não restam dúvidas de que o crescimento populacional e o crescimento económico do último século resultaram da disponibilidade de uma energia barata e abundante: a energia fóssil. E, pela sua importância no transporte e em inúmeras aplicações industriais, o petróleo ocupou nesse quadro um lugar de destaque.
Chegámos, porém, a um momento em que já não é possível escamotear factos determinantes. Desde 2005 que a produção mundial de petróleo estagnou, e tudo leva a crer que não sofrerá crescimentos. Estamos confrontados com o pico do petróleo.
A energia continua a ser abundante, mas começa a deixar de ser barata, e essa é a razão pela qual a situação se complicou. As novas formas de energia são uma falsa promessa, pois são caras e menos convenientes do que o petróleo. As jazidas de crude entretanto descobertas (como as de águas profundas do Brasil, e os xistos betuminosos do Canadá ou do Orinoco, na Venezuela) têm custos de exploração muito mais elevados. A energia consumida na extracção dum barril destas jazidas aumentou muito, e o índice de retorno é cada vez menor.
Chegou o momento de fazer opções. Portugal enfrenta hoje uma situação difícil, para a qual apenas uma retoma da economia (traduzida num rápido e consistente crescimento do PIB) parece a solução “boa” e desejável. Mas é preciso ver como.
Esqueça-se a via financeira, monetarista ou keynesiana. Duvide-se das energias alternativas. Aposte-se antes no factor trabalho, condimentado com uma mais-valia tecnológica que nós, portugueses, já provámos ser capazes de incorporar.
Isto só será possível com uma mudança de políticas, e até de mentalidades. É uma via estreita, onde o conceito de “transição” desempenhará um papel decisivo.