Plauto, autor romano (254 - 184 a.C.), construiu da peripécia uma bela comédia. E muitos outros depois a utilizaram, como Camões e António José da Silva - o Judeu, para citar apenas gente nossa.
Anfitrião estava longe de casa, em missão militar. E logo isso deu ensejo ao estouvado Zeus para se tomar de amores por Alcmena, mulher do general.
Assumiu as formas do marido ausente, encarregou Hermes de engendrar a tramóia, e apresentou-se no alpendre da senhora, prontinho a passar à alcova. E tudo correu bem.
O pior foi no regresso do anfitrião. Mas isso é melhor vê-lo no palco, um dia, quando os encenadores da pós-modernidade retirarem da cena as Odes do Ricardo Reis, as Cartas ao príncipe do Sá de Miranda, e outros suculentos temas dramáticos.
Da involuntária facada no matrimónio nasceria Hércules, herói maior daquele tempo antigo. A quem sobrava em hercúlea força física, o mesmo que faltava em discernimento e agudeza de espírito. Vê-se muito, ainda, nos heróis de hoje.
Hera, porém, não lhe esqueceria a paternidade. E um dia, por um momento fatal, fez-lhe perder a razão. Numa desavença doméstica, finaram-se-lhe à mão a mulher e os três filhos.
Depois arrependeu-se duramente. Mas como não havia Avé-Marias, só se redimiu em troca da pesada penitência dos Doze Trabalhos de Hércules, de que ainda hoje se fala, cada vez mais a propósito.
Para executar um deles, chegou aos confins do mar. E erigiu no estreito as duas colunas de Hércules, que ainda hoje lá estão: dum lado os montes de Ceuta, do outro o rochedo de Gibraltar.
Em cumprimento de um outro o herói passou no Cáucaso, onde encontrou Prometeu, o titã posto a grilhões. Matou o grifo que lhe rasgava as entranhas e soltou-o.