domingo, 11 de abril de 2010

Mitologias - As cinco idades

Divergente da versão prometaica, ficou a narrativa criacionista das cinco idades. A qual imputa aos deuses a geração dos homens, com base nos metais.
O primeiro que ensaiaram foi o ouro, e dele ficou um tempo em que as searas por si frutificavam e a humanidade vivia sem sofrimento, paredes meias com as divindades.
Sem que se saiba porquê, a não ser por capricho divino, de tal idade apenas sobrevive um eco na memória, uma nostalgia vaga.
Porque vieram depois as idades da prata, do bronze e do ferro. E cada uma marcou as criaturas, e a natureza delas, numa curva sempre descendente de qualidades e penas. Até chegar um tempo em que o poder se tornou veneração suprema, e deixou de respeitar-se o bem. Os homens perderam a capacidade de se opor ao mal.
Perante a perversão da raça humana, Zeus resolveu destruí-la. Mandou à terra um dilúvio de nove dias e nove noites, a que só escapou o monte Parnaso. Mas à catástrofe geral resistia uma arca, a boiar na procela, guardando lá dentro um casal de primos - Deucalião e Pirra. Era ela filha de Epimeteu e Pandora (a curiosa da caixa), ele era filho de Prometeu. E foi este, claro, quem lhes engendrou a barca.
Quando as águas baixaram e a arca tocou em terra, os sobreviventes não viram sinais de vida. E Zeus sentiu compaixão dos seus lamentos, da sua desolação.
- Atirem para trás das costas os ossos da vossa mãe! - foi o que lhes fez ouvir.
Ele, por fim, compreendeu. Que a terra é a mãe de tudo, e as pedras os ossos dela. À medida que caíam, logo tomavam as pedras forma humana e repovoou-se o mundo.
E veio uma idade nova, com uma raça restaurada e vigorosa. Tal foi o que ficou dito.