terça-feira, 20 de abril de 2010

O declínio das abelhas

A questão não tem a mínima importância, para o cidadão cuja ideia de ruralidade se esgota na banca de legumes do supermercado. Infelizmente, no mundo real, as coisas são algo mais delicadas.
Uma enorme quantidade de espécies vegetais cultivadas dependem, ao menos em parte, da polinização feita por insectos. E algumas delas, como as abóboras, os melões, o pepino, o maracujá, o cacau, dependem integralmente da sua acção.
De há alguns anos a esta parte, vem-se verificando em todo o mundo uma crescente mortalidade nas colónias de abelhas. Não estando cientificamente diagnosticadas as causas do declínio, é de admitir que sejam várias: o ácaro parasita que se lhes cola ao ventre e as enfraquece, os pesticidas, insecticidas e químicos da agricultura intensiva que as envenenam. Fala-se mesmo, ninguém sabe com que verdade, da maléfica influência das múltiplas radiações presentes na atmosfera, de redes de comunicações e outras, que lhes perturbam o sentido de orientação e as impedem de regressar à colmeia.
Como se isso não bastasse, a meteorologia caprichosa desta primavera atípica veio aumentar a razia. Pois perturbando a normal evolução da população nas colmeias e impedindo a saída de enxames, acaba a contribuir para o colapso das colónias.
Nos EUA a polinização é já uma indústria. Metade dos apicultores não têm abelhas para produzir o mel que não crestam, antes alugam as suas colmeias a grandes produtores de legumes e frutas. Transportam-nas em função das estações e das diversas culturas: as laranjas na Flórida, as amêndoas na Califórnia, as macieiras na Pensilvânia, os mirtilos no Maine.
A crescente escassez da oferta fez triplicar os preços do aluguer em poucos anos. E em 2008, na Carolina do Norte, a produção de pepinos sofreu uma redução de 50%, por não haver colmeias suficientes para a polinizaçãos das culturas.
Parece questão de lana caprina, no composto explosivo dos problemas que hoje fustigam um mundo à deriva. Infelizmente não é. Einstein alertava, há 50 anos, para as leis de interdependência entre as espécies: "Le jour où l'abeille disparait, l'Humanité en a pour deux ans." Nem ouso traduzir.