A deusa Éris habitava o Olimpo, onde não era bemquista. Tinha o condão de espalhar a cizânia e a discórdia, e os seus pares faziam por ignorá-la. Acabou a pôr o mundo numa babilónia, e deixou-o povoado de sequazes, tão frustrados quanto numerosos. Ainda hoje.
Um belo dia, numa boda a que não fora convidada, atirou para o salão uma maçã doirada, "para a mais bela!". É de imaginar o rebuliço, com tantas deusas a cobiçar a prenda. Mas no fim ficaram três: Hera, antes que todas a dama primeira, Afrodite, a que surgiu da espuma, e Atena, a dos olhos cintilantes.
O Zeus Tonante descartou intrometer-se, mandou-as ir ter com Páris, excelente juiz em tais matérias. Herdeiro do rei de Tróia, o pai correra com ele, quando um dia lhe constou que o filho havia de ser a ruína da cidade. Afastou-o para a montanha, onde apascentava o gado.
Sabidonas, as três deusas conheciam muito bem o que mais motiva os homens. E jogaram a melhor carta que tinham, para lhe condicionar o julgamento.
Hera prometeu fazer dele o senhor do mundo conhecido. Atena tentou-o com a chefia dos troianos, numa guerra que havia de arruinar a Grécia. E foi Afrodite quem o submeteu, com a promessa de vir ele a possuir as mulheres mais belas do mundo.
Páris, que a história fixaria como fraco e pusilânime, deu a maçã a Afrodite. A qual tratou de cumprir o prometido, conduzindo o pastor à cidade de Esparta, onde vivia Helena, a mais bela entre todas. Nem admira, se era filha de Leda e do mesmo Zeus, que para este fim se disfarçara de cisne.
Os dados estavam lançados, e o resto é Homero quem o conta.