terça-feira, 5 de maio de 2009

O arranha-mamanço

Arranha-mamar (v. intrans.): empatar, fazer de conta, simular, nem lá ir nem fazer minga.
Arranha-mamanço: acto ou gesto de arranha-mamar; paleio de cona (pleb.).
Arranha-mamas: aquele que cultiva o arranha-mamanço.

Grosso modo, muito grosso, há arranha-mamas de 3 tipos:
O tipo Loureiro, representado por um menino de coro, a fazer de anjinho de asas brancas e covinha na bochecha. O seu tique recorrente é a falta de memória selectiva, a amnésia cirúrgica. Normalmente aparece de mãos postas, prontinho a pô-las no fogo, e a jurar pelo que tem de mais sagrado.
O tipo Isaltino, mais do género chavalo que se meteu na passa derivado às más companhias. Os exemplares desta espécie são batidos no relativismo. Alegam que toda a malta vai à marmelada, só lá não vai quem é parvo. E conhecem cabeleireiras na Suíça que ficaram milionárias a pintar madeixas cor de rosa.
O tipo Berlusconi é o padroeiro-mor, o arranha-mamas vintage, e é menos visto por cá, pelas grandes exigências tecnológicas. Adquiriu a qualidade de ir directamente à raiz da coisa: compra as televisões e os jornais que nos contam a história que lhe interessa ver contada. E quando é a própria legítima a recalcitrar, desmascara-lhe ali mesmo a pouca vergonha: ela anda mancomunada (leia-se metida entre lençóis) com a oposição inteira. Que ainda por cima cheira mal da boca.
Esta taxonomia é por força imperfeita, devido à enorme biodiversidade que se verifica no arranha-mamanço. Gestores do público, do privado e do misto, políticos rigorosamente centristas ou nem tanto, empresários do camandro, deputados de profissão, lavradores da CAP, presidentes da Madeira, formadores de opinião, criativos da pós-modernidade, autarcas dinossauros, neo-literatos, desembargadores, filósofos do saudosismo, hermeneutas do Bandarra, é um nunca mais acabar. Todos a ver se já estamos a dormir, só para apagarem a luz.