Após um período de construção de 22 anos, a linha do Tua chegou a Bragança em 1906. Em 1992 foi encerrada a partir de Mirandela, mantendo-se aberto o troço inferior do Tua. Em 120 anos de vida da obra, ocorreram 4 acidentes num único ano (Fev 07/ Ago 08) dos quais resultaram 4 mortos e 31 feridos. Estas ocorrências foram fruto do desleixo, da incúria, da irresponsabilidade e do abandono deliberado a que a linha foi sujeita. A falta de alinhamento dos carris, o empeno e mau estado dos mesmos, o apodrecimento das travessas, a má ligação entre umas e outros, o péssimo estado das juntas e a falta de estabilidade dos taludes eram factos que um leigo reconhecia. O descarrilamento há dias verificado terá sido o último, e constituiu o trânsito em julgado da sentença de morte, que os supostos responsáveis pela linha há muito lhe tinham ditado.
O problema da energia na vida do país é incontroverso. Sobretudo da energia limpa, renovável, onde estiver disponível. Mas isso não quer dizer que se construa uma barragem onde houver dois montes com um vale no meio. Cada barragem é um compromisso, entre o que se ganha na sua construção, e aquilo que se perde construindo-a. O bom governo é o compromisso certo.
Errada foi a decisão do Baixo-Côa, que levou ao sacrifício do Sabor e do Tua. Foi um voluntarismo, que o tempo se encarregou de demonstrar. Se esquecermos a Quinta da Erva Moira, que ficaria submersa, o essencial do património das gravuras era salvaguardável.
Um dia, mais cedo do que tarde, um bom governo retomará o projecto, pois o que tem que ser tem muita força. Mas já não irá a tempo de evitar um erro sobre outro erro. Pois qualquer que seja a alternativa que venha a ser praticada (existem as versões mais visionárias!) a perda patrimonial da linha do Tua será irreparável.
Mas Portugal está há muito habituado a isso. A deixar os militares mandar na guerra, quando tão pouco sabem da vida e das finanças. Os intelectuais mandarem na cultura, eles que desconhecem a economia. Os engenheiros mandarem nas obras, quando pouco sabem do património e da história. Os economistas mandarem nas finanças, sem saberem da vida nem da paz. Os gestores mandarem no património, desconhecendo a arte e a cultura. E os políticos mandarem na história, malbaratando a cultura, as finanças, a paz, o património e a vida.
Quem não aprende com os erros, passa a vida a repeti-los!