quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Corja

Os simplórios já vinham considerando que o PPD era um quisto sebáceo. Os menos distraídos há muito suspeitavam de que havia ali um abcesso infectado. Os mais avisados nunca duvidaram de que aquilo era um furúnculo perigoso. E o presidente Cavaco sabia perfeitamente que se tratava dum tumor maligno. Na sua impoluta competência de campónio, que ninguém regateará, conheceu-os a todos muito bem. Foi por isso que, após dez anos de governo, em 1995, submeteu a corja a um tabu que durou o ano inteiro, e acabou por enjeitá-los a todos. Nunca mais saíram da orfandade.
Os factos conhecidos são claros. Uma boa dúzia de figuras cavaquistas - ministros numerosos, secretários de estado, chefes das secretas com procuradores à mistura, comissários políticos partidários - praticaram, ou foram coniventes, ou receberam benesses duma vasta panóplia de malfeitorias: traíram o país, defraudaram o povo, usaram o estado para proveito próprio, trocaram poder político por benefícios pessoais, traficaram influências, intercambiaram interesses, piratearam o erário, puseram-se a render, mostraram o que são. Este, salteador sem escrúpulos. Aquele, abutre faminto. Aqueloutro, cúmplice calado. Entre todos, e salvo outra opinião, a cadeira de espaldar cabe ao conselheiro de Estado Manuel Dias Loureiro.
E agora, presidente Cavaco? Sacrificando os anéis do cavaquismo, terás salvo os próprios dedos. Mas salvaste? Como foi que pudeste nomear, e como poderás ainda manter, sentado à cabeceira da Nação, um conselheiro de Estado desta estirpe? Sei que vais titubear que as sentenças penais competem só à justiça. E as éticas? E as morais? E as políticas? E as outras? Ou será que o conhecido ainda é pouco, e afinal a procissão vai só no adro?