No tempo em que só havia caminhos de cabras, os portugueses saíam de Lisboa e levavam sete horas até chegar a Braga. Iam de Faro a Bragança seguindo as curvas de nível, e antes acautelavam testamento, porque o diabo as tecia.
Um dia chegou a Europa e trouxe-lhes vias rápidas, e auto-estradas que rasgavam as montanhas, e tinham terceira via nas subidas. A ideia era poupar tempo, moeda primeira do caos da civilização. Era habituá-los lentamente ao moderno frenesi de quem tem pressa e um horário para cumprir. Eles, porém, deformados pela história, esquivaram-se ao conceito. E ninguém lhes tira da cabeça que a terceira via das estradas é a dos romeiros que vão a pé a Fátima. Para eles, cumprir, só as promessas à Virgem.
Assim, quando vão para a estrada, alguns ainda afivelam a máscara do frenesi moderno. Porém, atacados de piedade, oitenta por cento deles reservam a terceira via aos peregrinos. Quanto a modernidade, a faixa do meio é-lhes mais que bastante. Vivem muito bem assim, na alegre inconsciência dos cretinos. E quando calha matam-se uns aos outros, com uma tranquilidade ainda maior.