sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Perfis

«(...) Para muitos europeus, que apenas tinham olhos para o atraso de Portugal e para a tirania do Marquês de Pombal, a morte pelo garrote e pelo fogo de Malagrida, o jesuíta meio louco, foi a última gota. Foi, porém, uma curiosa ironia que o último indivíduo a ser queimado no pelourinho pelas autoridades portuguesas fosse padre e membro de uma ordem religiosa que fora a verdadeira ponta de lança da Contra-Reforma. Como que a acentuar este ponto, o Cavaleiro de Oliveira, um aventureiro português que tinha aconselhado D. José I a fundar uma igreja lusitana, segundo o modelo da igreja de Inglaterra, e que mais tarde se tornou luterano, foi queimado em efígie ao lado do jesuíta. (...) Pombal usou a tentativa de assassínio de D. José I para esmagar tanto a aristocracia como os jesuítas. (...) 
Portugal foi mais profundamente marcado pela Contra-Reforma do que qualquer outro país da Europa, e foi o país que aceitou melhor a ordem que exemplificava o ultramontanismo da afirmação da supremacia papal - a Companhia de Jesus. Em nenhum outro país os jesuítas conseguiram um predomínio semelhante na educação da elite. (...)
A última década do governo de Pombal assistiu a mudanças dramáticas nas condições económicas, que tiveram consequências significativas para a economia política portuguesa, Foi um período de paradoxos, marcado pela recessão económica e pela concentração de poder económico nas mãos dos amigos de Pombal. Na década iniciada em 1770 deu-se a quebra mais importante da produção de ouro do Brasil, que esteve na base da alteração das circunstâncias vividas por Portugal. A exaustão do ouro de aluvião e a incapacidade de encontrar técnicas mais adequadas a uma economia demasiado dependente da riqueza aurífera do sertão brasileiro, tiveram consequências muito graves. Acima de tudo levou a um declínio prolongado da capacidade de importação do país, especialmente de produtos britânicos. Mas essa alteração substancial também permitiu que Portugal atingisse um dos objectivos das políticas nacionalistas de Pombal: a balança comercial entre Portugal e a Grã-Bretanha quase atingiu o equilíbrio. (...)»
Tínhamos partido dos pontos de vista de Camilo Castelo Branco sobre o Perfil do Marquês de Pombal, a propósito de Sócrates! Daí derivámos para uma visão inglesa, que agora chega ao fim.
« (...) Quase um ano e meio depois de ter sido afastado do governo, as queixas contra Pombal levaram à elaboração duma famosa acção judicial. O idoso Marquês teve que enfrentar acusações graves: abuso de poder, corrupção e outros tipos de fraudes. Empregou toda a energia que lhe restava para enfrentar esses ataques e defender-se de maneira muito judiciosa. O interrogatório do Marquês prolongou-se de Outubro de 1779 a Janeiro de 1780. (...) As provas foram examinadas por um tribunal de cinco juízes, mas não houve unanimidade quanto à maneira de proceder. D. Maria I resolveu acabar com o processo em 1781, declarando Pombal merecedor de "castigo exemplar". Mas por causa da sua idade e saúde precária, não lhe aplicou qualquer pena. (...)
Os historiadores portugueses, como sucedeu com os contemporâneos do Marquês, continuam divididos quanto aos méritos e à importância das medidas que tomou. Só um século e meio depois mereceu o reconhecimento nacional sob a forma duma grande estátua que, do cimo da Avenida da Liberdade, agora domina Lisboa. (...)
Se tivermos em conta a posição de Portugal no sistema de comércio internacional do séc. XVIII, concluímos que Pombal seguiu uma política lógica. (...)»