quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

CEP 3

Treze dias sobre a água / e que eu estive a velar / eu deixava de dormir / só para estar a pensar.
Não pensava em mais nada / senão seguir o meu destino / e pensava em meu pai / porque ficava sozinho.
Minha mãe já não é viva / Deus a tenha em glória / Deixou-me assim neste mundo / para ganhar a vitória.
Segui pelo mar largo / um sepultura sem terra / sujeito a perder a vida / para ir defender a guerra.
Lá no mar largo tão fundo / viam-se peixes a saltar / pareciam porcos de ceva (golfinhos redondos?)/ quando se querem matar.
Ainda se via de vez em quando / um passarinho a voar / mas era tanta a desgraça / que não tinha onde poisar.
Eu tive a vida perdida / e todos os camaradas / que o vapor fosse ao fundo / com inimigas granadas.
Os alemães atacavam-nos / com submarinos no mar / então haviam de ver / o nosso vapor a marchar.
Andava 12 milhas por hora / que era o seu dever / depois passou a 18 / para nos poder defender.
Então é que dava balanços / como as ondas no mar / já nenhum tinha esperança / de nos podermos salvar.
Levávamos vapores de guerra (navios de protecção!) / que foi quem nos valeu / quando vimos o inimigo / no encontro que se deu.
O nosso vapor de guerra / logo o começou a atacar / Levou-o para o mar largo / não o tornámos a avistar.
Já avistávamos terra / para o lado noroeste (!) / chegámos a uma barra de França / a uma terra chamada Brest.
Uma terra muito bonita / com todas as posições / e onde tinha um grande forte / só se avistavam canhões.
Vimos muitos carros de balas (transportes de munições) / para nos serem distribuídas / dissemos uns para os outros / cá estão as tais raparigas!
Eu falava para as francesas / logo vi que as não entendia / a uma pedi-lhe lume / e trouxe-me água fria.
Daí por um bocadinho / encontrei-a outra vez / então já me perguntou / se eu era português.
Mas eu para a entender / eu fartei-me de pensar / se não aprendo esta língua / não sei como me hei-de arranjar.
Não chegou a 4 horas / que estive naquela via / tocaram a reunir / logo fui deitar mochila.
Marchámos para o comboio / toda a nossa força armada / e ela foi-me acompanhar / no fim deu-me uma mãozada.
(Cont.)