sábado, 2 de maio de 2015

País gangrenado

"Pais que emigram e deixam crianças de oito anos em casa, com um irmão um pouco mais velho, ou ao cuidado dum tio ou uma vizinha, que não assumem essa responsabilidade de forma plena. Estes casos de abandono efectivo correspondem a um novo padrão identificado no ano passado, quando o número de crianças sinalizadas por abandono, em Sintra, passou de 4 casos conhecidos em 2013 para 28, em 2014. Este tipo de situação de crianças em auto-gestão era muito residual. No último ano aumentou muito (...)" (in PÚBLICO)
Em qualquer organismo tomado da gangrena, deixam de operar as dialécticas múltiplas da vida. O resultado inevitável é a degenerescência e a auto-destruição. A sociedade portuguesa vive um desses momentos de catástrofe, que não é o primeiro na sua longa história pela mão das mesmas elites.
Os sinais são multímodos e plurais. Mas o simples facto de termos há dez anos, nas funções de Supremo Magistrado da Nação, um manipanso como Cavaco Silva, é um claro sinal de alarme. E o governo que elegemos há quatro devia ser uma luz vermelha acesa.
A única coisa que o cidadão comum tem ao alcance para resistir à gangrena é fazer cada um o que deve ser feito, da melhor maneira que é capaz: o carpinteiro, as cadeiras; o médico, tratar os doentes; o professor, dar as aulas; o agricultor, cuidar a sua terra; o gestor, gerir a empresa; o cientista, investigar; o estudante, aprender; o funcionário, cumprir.
Depois é ficar à espera que o tempo e as circunstâncias externas ajudem à regeneração que o corpo gangrenado já não cria. É claro que há amputações possiveis, algumas delas em marcha. Mas é improvável que um país se auto-destrua e acabe por desaparecer.