quarta-feira, 6 de junho de 2012

A troica do passeio das estrelas

Eu, troicas, conheço várias. Num instantinho chego à meia dúzia.
A mãe de todas as troicas, tantos erros, tantos crimes, que um dia virou madastra dos filhos que a idolatraram.
A troica dos financeiros que nos assaltam a casa.
A troica dos aldrabões a dar a volta a um papel.
A troica do passeio das estrelas, de que temos que falar.
[clicando talvez se veja!]
O senhor presidente decidiu fazer mais obra, não pode viver sem ela. E não havendo na lei qualquer tutela de mérito, podia perfeitamente construir a disneilândia, nuns quintais do município. Mas felizmente optou por disparate menor. Fez uma parceria publico-privada, e betonou todo o rossio da feira. Uns três ou quatro hectares.
Para dar a volta aos rezingas do ambiente, mandou aplicar cimento bago-de-arroz. Disseram-lhe uns entendidos que é tão perfeitamente permeável como um solo de cascalho. E logo se dispensou da opinião dumas tílias, duns vulgaríssimos plátanos, e dum par de freixos velhos que se queixam do progresso. Já o Távora, que aqui tem a incubadora, nem lhe passou pela extenuada cabeça.
E assim foi que, rossio em fora, para dar campo à veia criativa, desenhou o arquitecto ao presidente um passeio das estrelas. É uma faixa de ruptura estetico-visual, de elementos minimais e fracturados, interditada ao trânsito vulgar pelo senso mais comum.
Sucede que à mão esquerda, (mal distintos na figura), há uma fila de microdifusores, que aspergem vapor de água refrescante. A ver se tornam citadina esta canícula. Mas umas velhas finórias, fartas de aturar o mundo, quando o calor as aperta no mercado, enfunam a saia à mão e fazem-se de estrelas. Dizem elas que é um consolo, ir ao passeio assim de perna aberta.
E então a troica?! Ora a troica! É um terceto de maduros, igual às troicas todas! Tem lá dentro um presidente medíocre, que trinta anos de poder ensandeceram; um arquitecto caríssimo e famoso; e um empreiteiro que se põe a jeito e vai ganhando dinheiro. Não mudam eles, nem muda o orçamento que os sustenta. Nem sequer mudamos nós, que o custeamos. Isso seria um milagre que nenhuma troica faz.