quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ecos - 7***

O jagudi de pescoço pelado, indígena dos pântanos, poisou no galho escasso do embondeiro. O soldado de infantaria vinha cansado no coice do pelotão, ajeitou a bazuca no capim e estendeu-se à sombra do jagudi.
O pássaro ficou a debicar a última perna dum caranguejo do lodo, e o atirador abriu uma lata de sardinhas que tirou do bornal.
- Mais me valia um pássaro na mão! – disse o soldado de infantaria.
- Antes te acudiram dois a voar! – disse o jagudi dos pântanos.
E assim ficaram. Mas quando o soldado atirador deu um piparote na lata vazia, um raio de sol fez ricochete no fundo da lata e regressou ao infinito.
Atentos ao sinal estavam dois bombardeiros de focinho comprido, que patrulhavam as nuvens e tinham ordens para abater tudo quanto mexesse. Vieram como duas setas, de nariz esticado e sorrateiro, rasgaram o ar por cima do embondeiro e largaram as duas bombas de napalm.
Iguaizinhos na vida, o jagudi e o soldado de infantaria mantiveram-se idênticos na morte. Só divergiam na metafísica.
***Eco de 2002