sábado, 23 de junho de 2012

Como eu te compreendo, ó Relvas!

Andou aí uma brava jornalista a pôr-te ao sol umas trafulhices íntimas, uns joguitos com uns manhosos da secreta, a ladrar-te às canelas e a gastar-te o tempo e a paciência. Quando afinal és tu o patrão daquilo tudo, o gajo que tutela, o sol que demarca as sombras, o diapasão dos tenores, o metro-padrão da lei!
Tu mandaste-a calar ao telefone em modo de alta-voz, ameaçaste o jornal com o blackout às fontes, chegaste a chantageá-la que lhe estendias na Net umas coisitas privadas. 
E a mocita a resistir. Uma ranhosa estúpida e precária, que ao fim de 500 anos de tradição gloriosa ainda não percebeu esta verdade elementar: neste teu país, ó Relvas, só o poder e os marginais podem dizer a verdade. O poder diz a verdade oficial, e os marginais balbuciam a sua, enquanto der. Só porque já não dependem de ninguém, nem têm carreira a construir, nem cátedra nenhuma a conquistar, nem trabalho a defender, nem filhos a sustentar. Porque já são marginais.
Tu a telefonares-lhe à direcção do jornal a apresentar desculpas, a fugir a crispações para evitar fogos maiores, tu que és o patrão daquilo tudo e a ranhosa a resistir, onde é que já se viu uma coisa assim.
Sabes que mais? Fizeste muito bem e eu compreendo-te! Tão bem que até te vou contar um episódio meu, no qual, mal acomparada, se viveu coisa parecida.
(Continua)