sábado, 9 de junho de 2012

Sotaques

Orelhas mais sensíveis à nortada sentenciam como menos adequado o sotaque vernáculo que a espaços se ouve cá em casa. Outras o consideram inconveniente, para só dizer o menos.
Há que pôr a questão em pratos limpos.
Cá em casa há muito respeitinho pela urbanidade, a placidez possível, mesmo a reverência, se tiver que ser.
Mas essa é a segunda prioridade cá em casa.
A primeira prioridade, e grande obrigação, do cidadão que vive na cidade é edificá-la. A cidade. É dar-lhe consistência e corpo. E logo resguardá-la, quando posta em risco. A cidade.
 Cá em casa o cidadão não reconhece obrigação nenhuma de conquistar o céu à custa de sorrisos, que apenas lhe garantem um purgatório qualquer.
Cá em casa repudia-se a agressão em nome da paz na cidade. Rejeita-se a grosseria, mas não se abdica do direito ao insulto, quando a guerra estalou.
Cá em casa o cidadão recebe os assaltantes da cidade a tiro. Metafórico, enquanto puder ser.
Cá em casa aceita-se com naturalidade que em tempo de guerra as armas andem por limpar.