domingo, 13 de novembro de 2011

Calinadas

Ao Otelo não lhe agradam sobressaltos militares a desfilar pela rua. Muito embora eles existam por essa Europa fora há muitos anos.
Diz ele que, passados certos limites, só lhes compete destravar as culatras e despachar o governo. E que oitocentos soldados lhe bastariam para isso.
Uma calinada assim vem no seguimento de outras e atiça comentários.
É verdade que os indecisos limites há muito tempo foram ultrapassados.
É verdade que, desde há 25 anos, certas cliques dirigentes a quem o poder caiu um dia no regaço seriam para os portugueses motivo de vergonha, se antes disso já não fossem um exemplo de traição.
É verdade que, não fora a barcaça europeia em que Portugal mal navega, já tinha tido lugar um pronunciamento na segunda metade da década de oitenta.
É verdade que os pouquíssimos soldados bastantes a Otelo para dar ao governo um bom despacho já nem sequer existem, pois nem isso resistiu à nobre gente que nos tem governado.
É verdade que o governo hoje em funções foi eleito por uns quantos portugueses, e foi diligentemente amamentado pelos partidos encartados na revolução.
De forma que, jogando assim tão bem a mocha com a cornuda, o melhor será tirar daí o sentido e esquecer a peripécia.