De modo que resolveram organizar um simpósio, para acudir aos incêndios. Não digo internacional, seria exagerado. Uma coisa assim transfronteiriça, para ser mais rigoroso. Custeada a fundos de coesão.
Vieram alcaldes espanhóis, bombeiros dum lado e doutro, delegados da protecção civil, e autarcas raianos ou nem tanto. Estava um representante do centro distrital de operações de socorro e alguns futricas avulsos. A mim, por lhes constar que entendo de palavras, que é uma coisa que não vem nos catálogos, encarregaram-me de resumir as actas.
Alugaram a sala de conferências do hotel Continental, e iniciaram a sessão com um atraso maçador.
- Frequência e dimensão dos fogos florestais na paisagem moderna
- Causas e consequências
- Papel fundamental dos retardadores de fogo no combate à catástrofe
Antes da ordem do dia, o moderador introduz um ponto prévio. De tão ilustres presentes, quer uma declaração de interesses. Quer saber quem não trabalha no mercado dos retardantes do fogo. E fosse ele o imprevisto da pergunta, o intrincado da formulação, ou distração momentânea, o caso é que ninguém se pronunciou. E entrou-se finalmente na agenda dos trabalhos.
Durante o dia inteiro discutiram argumentos, cruzaram fórmulas químicas, compararam resultados. E lamentaram todos não poder fazer milagres.
Eu deixei-os falar e fui tirando notas. E antes de encerrarem os trabalhos já tinha lavrada a acta. Eram todos, menos um, industriais do ramo.
Foi ali um pandemónio, a acrescentar aos fogos, com tanta raposa dentro do galinheiro.