É frequente na história portuguesa a oscilação esquizofrénica entre a megalomania absurda e a catástrofe. Mafra e o seu rei magnânimo são apenas um exemplo.
O plano original tinha previsto, frente à fachada poente, a principal, uma avenida, ou alameda, ou álea, desde o convento ao mar, até à Ericeira.
E eu imagino quilómetros de bosques e fontanas, e escadórios barrocos, e jogos de água e arabescos mitológicos, e tritões à versalhesa, à enorme dimensão da paranóia de el-rei.
Felizmente a catástrofe do terramoto de 1755 veio gorar tais projectos, já que o país todo inteiro pouco era, para reconstruir Lisboa. E a alameda grandiosa nunca mais foi construída.
Assim nos poupou, o terramoto, a mais esta contradição. Entre a megalomania duma elite dirigente, parasita e antipatriótica, e a miséria com que o povo nunca deixou de viver paredes-meias.