quinta-feira, 23 de junho de 2016

Poema a jeito, quer dizer, à pós-moderna!

Viaja-se a Lisboa de comboio, vai-se ao Porto de autocarro.
Lisboa tem avós mouros, no Porto os tios são celtas.
Lisboa teve um dia um terramoto, o Porto ainda sofre de o não ter.
Lisboa tem a luz que ninguém esquece, já o Porto é cinzentão inglês.
O Porto foi ao Brasil, mas os jacarandás floresceram em Lisboa.
Em Lisboa há sotaques tropicais, no Porto é mais vernáculo de caserna.
Por Lisboa anda o calor do Estreito, e no Porto os arrepios da nortada.
No Porto vivem história e tradição, em Lisboa há cosmopolitismo e ecos de epopeias.
Em Lisboa culturas acontecem, no Porto há performances non-stop.
Por Lisboa andam as mamas ao sol, no Porto abrigaram-se da aragem.
No metro de Lisboa há um tocador de concertina com um cão pequeno ao ombro, no do Porto não há tocador nem cão.
Os velhos do Restelo ficaram no Porto, em Lisboa sobrevivem as lendas de aventureiros.
Lisboa teve uma praia das lágrimas, no Porto há os olhos molhados dela.
Lisboa salgou a carne das caravelas, no Porto ficaram as tripas dela.
No Porto há gente que vai a falar sozinha, em Lisboa ninguém ouve os que passam a falar.
Em Lisboa há seis milhões de lampiões, no Porto há dragões a cuspir lume.
O Porto carrega a história, Lisboa mandou escrevê-la.
Nas ruas de Lisboa há muitos BMW's, no Porto é mais Porsches e Ferraris.
No Porto tudo começa, em Lisboa tudo acaba.
No Porto vive o passado, o futuro é em Lisboa.
O presente só na Lapa!