sábado, 25 de junho de 2016

Amarcord

Numa aldeia italiana de há um século, festeja-se a chegada da Primavera com uma fogueira ritual, onde se queima a bruxa "Juízo". E é num registo irónico, mordaz, se não sarcástico, que se desenrola uma sucessão de episódios divertidíssimos, com tipos que só saem da cabeça de Fellini:
- Gradisca, a cocotte burguesa e sonhadora, que agita as águas mais fundas e mais secretas;
- O advogado erudito, que explica a história que ninguém quer ouvir;
- A escola, onde mestres e alunos são um inesgotável manancial de humor e irreverência;
- Volpina, a libertina pobre;
- O poeta, operário da construção: O meu avô assentava tijolos / O meu pai assentou tijolos / Eu ainda assento tijolos / E a minha casa onde está?
- O crescimento do fascio e o endeusamento do Duce;
- O gramofone no campanário a difundir de noite a Internacional, com toda a tropa fascista a disparar para o sino, até que o gramofone desaba na rua e se cala;
- O construtor civil e a sua agitada vida familiar;
- A visita ao seu irmão Teo, um lunático internado que urina sem abrir a braguilha; acaba empoleirado numa árvore a gritar voglio una donna, e recusa-se a descer.
Há história, tradições, atavismos e ironia quanto baste, neste universo felliniano. E o filme acaba no casamento da Gradisca, porque há sempre um momento de acabar.