quarta-feira, 6 de maio de 2015

Por falar outra vez nisso!

Para quê toda a trabalheira, se está quase tudo aqui?!
Na ausência dum link, transcreve-se:

«A NATO foi criada nos escombros da Europa devastada pela II Guerra Mundial, e posteriormente fechada pela Cortina de Ferro soviética, de que falou Churchill. A sua criação permitiu deter o Exército Vermelho nas fronteiras de Berlim e dos Balcãs, e deixando do lado de cá países como a Grécia e a Finlândia. (...) Graças à participação decisiva dos EUA, a NATO deu à Europa uma força dissuasora perante as forças do Pacto de Varsóvia,*** mas simultaneamente e já na era dos mísseis intercontinentais, permitiu aos EUA estabelecer em solo europeu uma primeira frente de batalha na eventualidade de um conflito global. Essa bivalência militar acabou por ser decisiva no desfecho da chamada Guerra Fria, quando os EUA responderam à instalação dos mísseis soviéticos SS-20 na Alemanha Oriental (!), com a correspondente instalação dos mísseis americanos Cruise e Pershing II nas bases europeias da NATO. Liderando um país e um sistema arruinados, incapaz de responder a novo salto em frente das capacidades militares (a guerra das estrelas, ameaçada por Reagan!), Gorbatchov deitou a toalha ao chão, desmantelou a Cortina de Ferro e, de caminho, a URSS. Foi o momento de liberdade e alívio pelo qual duas gerações de europeus tinham esperado.
Com a implosão da URSS e o fim do Pacto de Varsóvia, muita gente se perguntou se fazia sentido a manutenção da NATO. Mas isso não estava nos planos dos seus mentores nem do lóbi politico-militar de Washington. Pelo contrário: a tentação de preencher o vazio deixado a Leste pelas tropas soviéticas e seus aliados revelou-se irresistível para os dirigentes da NATO - os quais, perante a absoluta inércia dos dirigentes políticos europeus, puseram em marcha uma estratégia de avanços sucessivos em direcção a Moscovo e impuseram à Europa uma política de novo confronto com a Rússia, que os europeus nunca sufragaram nem sequer tiveram possibilidade de discutir. Doze países do antigo Pacto de Varsóvia, do Báltico ao Mediterrâneo, foram englobados na NATO, assim estabelecendo um "cordão de segurança" à volta da Rússia, congeminando ainda começar a expandir-se pelo Cáucaso, através da Geórgia, e apertando o cerco pelas costas de Moscovo, quem sabe até pela Ásia Central, de que o Afeganistão foi o primeiro passo.
Paralelamente a NATO envolveu-se e envolveu a Europa na guerra civil dos Balcãs -na guerra aérea contra a Sérvia, vergonhosa prestação militar, cujo objectivo principal foi esgotar uma geração de armas vendidas ao Pentágono para possibilitar a venda de uma nova, e na criação do estado artificial, marginal e corrupto do Kosovo, que só subsiste com a presença de militares da NATO.
Mas a grande tentação da NATO chama-se Ucrânia, e não por acaso coincide com a linha vermelha que desde o séc. XVIII a Rússia estabeleceu como a fronteira para lá da qual se considera directamente ameaçada. (...) A NATO propõe à Ucrânia o seu braço protector sob duas modalidades: adesão e ocupação militar. (...)
Esta semana tivemos a honra da visita do novo secretário-geral da NATO, o norueguês Stoltenberg, em ronda de circunstância pelos vários membros da associação, para caucionar "democraticamente" a futura guerra da Ucrânia. Uma tradição da casa, já vista anteriormente, como aquando da segunda guerra do Iraque, onde aqui encontraram a entusiástica adesão de gente como o então 1º ministro Durão Barroso, jurando ter visto "provas inequívocas" das armas de destruição maciça de Saddam, que não passavam duma falsificação grosseira dos serviços secretos americanos. (...)
Após esta visita protocolar do secretário-geral da NATO, ficámos a saber que, para responder à "ameaça russa", Portugal vai enviar para a Ucrânia (Roménia?!) um navio de comando e quatro aviões de caça F-16, além de tropas no terreno para a Lituânia. Ou seja: vamos à guerra. Sem que o Parlamento se pronuncie, sem que o Conselho de Estado seja ouvido, sem que os chefes militares sejam consultados e sem que o país seja informado.
Pergunto-me o que acontecerá se, por incidente ou por acidente, um dos nossos F-16 for abatido por um avião russo - declaramos guerra à Rússia, ou declaramos por bem empregues os nossos impostos no rearmamento das FA? (...)» 
[Miguel Sousa Tavares, in EXPRESSO]

*** Na realidade a Nato foi fundada em 04Abr1949, e o Pacto de Varsóvia em 17Mai1955, sendo este dissolvido em 01Jul1991, depois da queda do muro de Berlim.