terça-feira, 5 de maio de 2015

Ó geração de inúteis e sonâmbulos!

«O capitão Salgueiro Maia foi um dos grandes heróis da Revolução de Abril. Ficará na História como um dos exemplos de grandeza moral que deu aos portugueses a liberdade e a democracia. O valor daquilo que fez por todos nós é demasiado grande e não tem preço. É claro que ninguém faz uma revolução sozinho e muitos outros militares mereceriam também uma referência. Mas Salgueiro Maia ocupa um lugar particular na história do 25 de Abril. Se não fosse Salgueiro Maia a liderar a missão de derrubar o regime com os soldados que comandava, com toda a determinação, coragem e convicção, provavelmente não teria havido 25 de Abril, ou pelo menos poderia não ter acontecido de forma tão pacífica. Fez tudo bem, desde que saiu da Escola Prática de Cavalaria em Santarém até receber a rendição do então presidente do Conselho, Marcelo Caetano, e da ditadura que representava. (...) 
A lucidez e coragem que havia em Salgueiro Maia, faltou a muitos protagonistas políticos e militares das conjunturas no pós-25 de Abril, que culminou com o episódio infeliz e indigno da democracia de lhe ser recusada uma pensão pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva. O mesmo primeiro-ministro que não teve problemas de consciência de atribuir, três anos depois, uma pensão a dois agentes da polícia política, um o último chefe da PIDE em Cabo Verde e o outro um dos resistentes na sede da Rua António Maria Cardoso, que disparou sobre a multidão e causou os únicos mortos da revolução. (...) 
Só a ignorância, a mesquinhez e o desprezo pela História pode deixar-nos indiferentes ao percurso e importância de Salgueiro Maia. Os Homens não são todos iguais perante a História. Aqueles que deram a vida por ideais, que foram grandes exemplos morais e defenderam as causas do bem comum precisam do reconhecimento colectivo. Se não o fizermos e agirmos em consequência, então também os valores morais e os princípios éticos deixam de ter valor e aí a nossa vida em sociedade transforma-se numa selva. Os factos da memória ajudam-nos sempre a criar um futuro mais justo, lúcido e nobre.(...)»
[Paulo Pisco, in PÚBLICO]