domingo, 26 de abril de 2015

A cidade

Pela quinta vez recebe-me com chuva, vale-me a capa que trago no carrinho. Numa indução apressada, o Porto faz o povo previdente, ele saberá porquê.
A quem ela não serve por aí além é ao Licas. Está lá ao fundo do pátio, abrigado no beiral, e tem ar desconsolado. Não se aproxima da grade nem tem à mão o pato de borracha, que em tempos vinha oferecer-me. O mais certo é terem-lho confiscado, para saldar a dívida que todos temos com os nossos credores, esses pobres.
Aceno-lhe cá de longe e nem volta a cabeça. Só se arreda quando o dono mete na garagem o bêéme a reluzir. Fora disso já não ladra, nem protesta, quando o autocarro chega.