quinta-feira, 29 de junho de 2017

Panascada avulsa


Relações homoeróticas
" (...) O mito relativamente persistente de que não existiria homossexualidade em África antes da colonização europeia está hoje desmentido, sem margem para dúvidas, embora de vez em quando seja ainda levantado por alguns demagogos daquele continente. No espaço de influência portuguesa, essa questão tem sido desbravada pelo historiador brasileiro Liz Mott, que não só tem chamado a atenção para o infundado da versão excludente como tem vindo a sinalizar também a presença de homossexualismo entre a população escrava africana em Portugal e no Brasil.
A Inquisição portuguesa foi chamando a si, a partir de 1553, os processos envolvendo relações homoeróticas, substituindo-se aos tribunais civis e criminalizando o que, para a Igreja, era até aí apenas um pecado, sujeito portanto a penas exclusivamente espirituais. São os processos da Inquisição, instituição que considerava esse tipo de relacionamento sexual "crime nefando", que acabam por ser o principal testemunho sobre a sua prática em Portugal e no Brasil durante o Antigo Regime, sendo no entanto mudos sobre relações homoeróticas envolvendo escravas.
O Santo Ofício perseguia sobretudo os praticantes que davam demasiado nas vistas, ou por puro exibicionismo ou por demasiada promiscuidade. Escapa-nos assim, quase por completo, o eventual, o mais discreto, relacionamento homoerótico entre escravos e senhores, uma vez que estes últimos tinham garantidos não só o consentimento como o silêncio, pela situação de dependência dos cativos. O padre José Ribeiro Dias, natural de Braga mas sacerdote em Minas Gerais, sodomizou vários dos seus escravos, tendo acabado por ser denunciado por um deles em 1754. (...)"