quarta-feira, 21 de junho de 2017

Anacronismos ou cegueira histórica?!

"(...) Há, porém, relatos de alguns visitantes estrangeiros, surpreendidos com uma situação que era, para eles, pouco familiar.
O nobre flamengo Jan Taccoen, senhor de Zillebeke, quando em 1514 passou por Lisboa a caminho de Jerusalém, teve oportunidade de ver chegar um navio "carregado de especiarias" que sob a coberta trazia cerca de 300 escravos negros, homens, mulheres e crianças. Ficou chocado com o facto de todos virem completamente nus, mas também não lhe deixou boa impressão a forma como depois foram tratados. Saídos do navio, foram agrupados na praia, e aí ao sol de Abril foi-lhes dado de comer em grandes gamelas, um espécie de trigo cozido, uma massa mole. Não tinham colheres, e o grupo que rodeava cada uma das gamelas usava as mãos para levar os alimentos à boca.
Acabada a comida, foram obrigados a ir lavar as gamelas ao Tejo, as quais em seguida foram enchidas de água doce. No entanto, a única forma que tinham de chegar à água era ajoelhando-se, e bebendo como animais. (...)
O prazentim Giuli Landi, quando passou pela capital portuguesa cerca de 1525, não deixou de reparar no modo de comerciar os escravos africanos. "Na compra e na venda dos escravos empregam muito cuidado, pois não basta para os compradores verificar a sua destreza e a sua galhardia, fazendo-os andar e correr, querem também ver se têm algum defeito nos seus corpos, e se lhes faltam dentes, por estarem convencidos de que aqueles a quem faltam dentes são mais fracos para o trabalho, por lhes faltarem os instrumentos de comer, de onde lhes vêm as forças. Ao exporem os escravos para vendê-los, costumam untá-los com azeite, para que os seus corpos pareçam mais lustrosos e mais belos. (...)
A praça da cidade que Sassetti refere era provavelmente o Largo do Pelourinho Velho, um dos topos da cosmopolita Rua Nova dos Mercadores, que corresponderia hoje ao quarteirão definido pelas ruas do Comércio, da Madalena, da Alfândega e dos Fanqueiros. (...)"
Os indígenas locais que ainda hoje sustentam que a aberração do tráfico escravo era fruto normal do tempo, limpem as mãos à parede! É que não há pior cego que aquele que não quer ver.