sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Estilhaços 15

Mais que um estilhaço, a questão da TAP é uma verdadeira granada armadilhada que o bando de marginais irresponsáveis do governo do Passos deixou de herança ao governo do Costa.
1 - Depois de indigitado pelo Cavaco para formar governo como partido mais votado, o Passos executou a privatização da empresa pública (através do mercenário Sérgio Monteiro, alegando a sua difícil situação financeira) já depois de o seu governo da semanada ter sido recusado pela Assembleia da República. Isto é, já depois de ter deixado de ser uma hipótese meramente académica.
2 - Como empresa privada, a administração da TAP tem (entre outros)  o direito de fazer as opções de gestão que mais lhe interessam, sem ingerências do governo legítimo. Quer quanto a rotas, aeronaves em uso, políticas de relações laborais, etc.
3 - Foi assim que suprimiu sete rotas a partir de Lisboa e quatro rotas a partir do Porto (Barcelona, Milão, Roma e Bruxelas).
4 -  Sentindo prejudicados os interesses da Região Norte em benefício da capital, o autarca Rui Moreira reage desabridamente, com palavras de cacique de bairro suburbano, demagogo e populista. Mas nem tudo em tais palavras será injusto. Há intensas relações entre empresários do Norte (do calçado, do têxtil, do vestuário, do turismo...), sobretudo com a Itália; e há o papel central que o aeroporto de Pedras Rubras desempenha no Noroeste peninsular, em relação a Vigo, Santiago e a Coruña. Daí ser muito importante preservar o hub do Porto.
5 - O discurso de Moreira encontra eco amplificado nos círculos tripeiros, marcados por velhos complexos regionalistas que a história atesta, muitas vezes com justificação. E abre campo a todos os demagogos, sempre prontos a explorar o filão da capital imperial.
6 - O Costa e o seu governo tentam restringir os danos. Propõem-se reverter a torpe negociata dos bisnetos de negreiros, reduzindo ao mínimo possível os direitos de indemnização da administração privada e dos milhões já injectados na TAP. A base foi uma parceria publico-privada na propriedade da empresa, com a gestão em mãos privadas. Isto é, o governo não pode interferir na gestão das rotas. E se quiser anular o contrato celerado, não são conhecidos os limites da indemnização exigida por reversão mais alargada.
7 - E aí quem calará os burocratas da Europa, a Comissão, o Eurogrupo, os servidores do Pacto de Estabilidade, o nazi paraplégico da cadeira de rodas, os especuladores dos juros da dívida, e os legalistas do défice, e as hienas das agências de rating?
8 - E internamente quem vai silenciar os revanchistas que perderam o poder, e os mercenários duma imprensa que está nas mãos da direita, e ainda não se cansaram de trombetear que o Costa chefia um governo ilegítimo? Quem vai calar os bloquistas, e o comité central, para quem o controlo da TAP é soberania nacional?
9 - A tropa dos marginais Passos e Portas já tinha posto em guerra uns portugueses contra os outros, os novos contra os velhos, os privados contra os públicos, os que emigram e os que ficam. Com esta granada sem cavilha vão pôr Norte contra Sul, os que vão à praia e os que ficam em casa, os que têm carro e os que vão a pé, os que têm um camião e os que o não têm. Não se vê como é que o Costa vai descalçar a contento uma tamanha bota. Porque, em eleições a prazo breve, uma maioria de eleitores imbecis, privados de raciocínio e manipulados pelos media, devolverá o poder aos sipaios e bisnetos de negreiros. No final vencerão os vencedores, e terá razão esta Cassandra.