segunda-feira, 20 de julho de 2015

Pelo mundo, em pedaços...

Ninguém sabe, ninguém hoje se pergunta, como foi que chegaram ao Congo. Lá se deixaram levar, como o Diogo Cão. Eram os tempos finados da República, e os fidalgotes feudais ninguém pegava neles, à espera que viesse o general de Braga. Isto somos nós a cogitar agora, eles sabiam apenas que a terra era madrasta e já não era pouco. Tão madrasta que toda era tomada, e não dava pão para alimentar os filhos. 
Não era vida que chegasse a netos. Por isso se juntaram todos três e foram ao deus-dará. Dois deles eram casados, já com filhos, o Zé já lá tinha três. O Ti'ngídio tinha andado nas guerras da Flandres, sobrevivera em La Lys. E quando voltou ao povo trazia uns modos estranhos, ninguém o entendia muito bem. Só o Antero era solteiro.
Uns anos depois voltaram daquelas terras, que a vida sorriu-lhes pouco. Mas o Zé nunca mais veio. Arranjou-se com umas pretas de Benguela, plantou mulatos debaixo dumas palmeiras, lá ficou. Os outros dois regressaram ao Valado e o Antero arranjou mulher e filhos. 
Até que ambos resolveram largar para o Brasil, numa tarde à sombra do chorão. Lá foram parar a Santos. O Ti'ngídio ainda voltou, ninguém o entendia muito bem. O Antero é que ficou por lá, e lá morreu.