sábado, 11 de julho de 2015

Miradouro

Há nesta manhã da serra um silêncio fecundo, que é ausência de ruídos. Mas já vêm além três viajantes do todo-o-terreno, que têm capacetes integrais, joelheiras, e botas de guerra afiveladas. Eu tenho dois bastões fiéis, que me dividem por quatro a sobrecarga de dois.
Eles descem e eu lá vou subindo. Venho depois a saber que um deles mandou chamar os bombeiros, foi parar ao hospital. Houve um calhau que saltou no meio da vereda, foi o cabo dos trabalhos.
Na descida escolho outro caminho e venho ter ao alto das Fragas. Daqui abranjo a aldeia inteira e não detecto nela um movimento, um gesto, um sobressalto, nem o bocejo dum santo no altar nem o ladrar dum cão. Era neste miradouro que os fogueteiros antigos largavam os foguetes da alvorada, chegando-lhes a brasa do cigarro à mecha do canudo. E mais que uma vez as canas alvoroçaram incêndios. E era daqui que subiam na aragem os papagaios de papel, umas folhas de jornal coladas num losango de caniços com uma papa de farinha e um compridíssimo rabo, a serpentear no céu. Há anos que aqui não vinha!