sábado, 27 de abril de 2013

No ponto

«(...) "Sou um pouco poliglota. Se eu quiser falar de mecânica ou de parafusos, o inglês ou o holandês são as línguas indicadas. Para falar de sentimentos e de emoções nem o italiano. Sabe o que dizia o Carlos V? Não?! Você não sabe mas é nada! Dizia ele: Eu falo francês com as mulheres, falo italiano com os diplomatas, falo alemão com os meus soldados e falo espanhol com os cavalos. A língua portuguesa para mim é uma delícia. O que sinto não é orgulho nem prazer. É uma mistura de respeito e de alegria por encontrar as palavras e os sons que me permitem dizer o que sinto. É um bocado absurdo mas é verdade. Da combinação de sons dentro duma frase você pode ultrapassar o significado das palavras e dar ao leitor um outro sentimento que ele é capaz de não saber definir e que é próximo do que a música nos transmite. A música transmite-nos emoções para as quais não há palavras". E tudo procurando a maior simplicidade. "É muito difícil. O ponto máximo que um escritor pode atingir é dar aos inocentes a ideia de que aquilo que escreveu é a coisa mais fácil do mundo". (...)»
[José Rentes de Carvalho, in ÍPSILON]