sábado, 27 de abril de 2013

Estilhaços

Foi então, a meio duma tarde, que chegou um alferes do batalhão da Cuimba, com o pelotão de morteiros. Tinha um vago estilo aristocrata, amamentava exóticos ideais monárquicos, e frequentava o quarto ano de medicina quando o recambiaram para São Salvador do Congo. Estacionou os dois burros do mato em frente do que sobrava da sé catedral resumida às paredes, apresentou de raspão uma guia de marcha na secretaria do comando, mal saudou os aviadores que despejavam bidões de combustível nuns bombardeiros cobertos de poeira e dirigiu-se a casa.
A mulher era legista, praticava de notária, servia de magistrada. Morava numa casa da avenida, e estava ausente em Luanda, na companhia dum alferes médico. 
O artilheiro reuniu o pelotão, montou nos burros do mato e regressou à Cuimba. Mandou formar no meio do terreiro, meteu uma bala na câmara da Walther que lhe pendia à ilharga, e descarregou os nove milímetros dela nos miolos. Uma semana depois a história já estava morta. Ninguém gosta de viver com estilhaços que matam.