5 - O PRESIDENTE
Cavaco Silva tem famas de impoluto, e também terá proveitos, o que é um bem muito escasso nos tempos que vão correndo. Mormente no ventre do cavaquismo, esse alfobre de figuras de cuja ética se sabe tão pouco, não mais que o suficiente para ocuparem as bocas do mundo. Ao que parece, foi um regabofe.
O Presidente tem alimentado pacientemente os mitos fantásticos da sua governação, e dos tempos heróicos do sucesso, em que o país era o bom aluno da Europa. Esperando que a falta de memória nos faça esquecer a todos, que é nos erros e ilusões dos seus governos que foi criando raízes o desespero presente. E tem tentado passar sem se molhar, pela enxurrada que se abateu sobre os seus émulos e serventuários. Mas há questões pouco claras.
Cavaco Silva teve necessidade de esclarecer há meses que nunca foi accionista do BPN. Apenas lhe confiou a administração de poupanças familiares. Porém não afirmou que nunca fora accionista da SLN, a proprietária do banco.
De facto, em 2001, Cavaco e a família adquiriram 254 mil acções da SLN, ao preço unitário de 1 Euro. Isto no tempo em que a saúde do grupo já não andaria muito católica, pois foi quando Dias Loureiro teve necessidade de ir à supervisão do Banco de Portugal, alegadamente para confidenciar preocupações.
As acções em causa não estavam cotadas em bolsa. A quem foram compradas? Quem efectuou a compra? Onde ficaram sediadas? Como se determinou o preço? Como é que o Presidente as pagou? Por cheque? Em numerário? Por transferência bancária? O pormenor não é despiciendo.
Em 2003, em carta à SLN, Cavaco dá ordem de venda das acções. Não estando elas cotadas em bolsa, sem mais-valias garantidas nem comprador assegurado, por que razão terá decidido vendê-las? Ou foi um palpite amigo, de dentro da SLN, antes que o caldo se entornasse? O facto é que as acções foram compradas pela SLN-valor, a 2,40 Euros por acção. Cavaco obteve em dois anos um lucro que nem na Dona Branca!
Mais tarde Cavaco adquiriu cerca dum milhão de unidades de participação do fundo Multi-manager do BPN, cujo valor entretanto está desaparecido. E declarou recentemente que afinal quem comprou as acções originais foi um banco. Terá sido o BPN? Por que será que o Presidente aceitou tão prontamente a nacionalização do BPN falido?
E o que é que isto tem que ver com as eleições? Pois tem tudo! E ainda mais alguma coisa!