sábado, 13 de junho de 2015

Parábola dos marintéus amarelos

A trovoada chega, selectiva. Vem por  cordas. Onde cai arrasta as terras, lambe o saibro dos caminhos. Se traz pedra, faz colheitas.
Nesta vinha do Senhor não vai haver vindimas, a mais serão os obreiros que se ocupam delas. 
O dono destes mirtilos vai ali na camioneta, cabisbaixo e pensativo. Mimou-os durante o ano, não lhes faltou com adubos, deu-lhes regas gota-a-gota. Nas vésperas da colheita encontra a colheita feita, com bandadas de estorninhos a reconfortar os papos.
Dizemos que isto é injusto, uma dor de alma. Porém a natureza não tem alma. Não reconhece injustiças, nem especula sobre metafísicas. Limita-se a estar ali, diz o que tem a dizer, e oferece-se em usufruto. 
Nesta figueira não haverá figos. E os marintéus amarelos relincham sem um protesto. É esta a lei.