Com vénia ao dr. Luís Queirós
Presidente da Marktest e membro da ASPO Portugal
Durante o último século a população mundial quadruplicou, passando de 1,7 para os actuais 6,7 mil milhões de pessoas. Por outras palavras, pode afirmar-se que, nos últimos 100 anos, a população mundial aumentou exponencialmente com uma taxa de crescimento de 1,8 %, e que duplicou nos últimos 40 anos.
Contudo, se observarmos o crescimento da população em diferentes áreas do planeta, verifica-se que o mesmo não foi uniforme. Em muitas dessas áreas o crescimento foi muito forte, e noutras foi muito fraco, nulo, ou até mesmo negativo. No primeiro caso, estão países da África subsariana, da América Latina e da Ásia; no segundo estão alguns dos países mais desenvolvidas da Europa e da América do Norte.
As previsões da Organização das Nações Unidas apontam para que a população mundial atinja os cerca de 9 mil milhões em 2050. São previsões preocupantes, tendo em conta que mais população significa necessidade de mais alimento, mais energia e mais recursos. Num planeta finito e com recursos limitados, coloca-se uma vez mais a eterna pergunta: até onde poderá crescer a população mundial, e quais são os limites a esse crescimento?
Desde Thomas Malthus que se discute a relação entre o crescimento populacional e a disponibilidade dos recursos necessários para o manter. É certo que a previsão de Malthus (que dizia que a população não poderia crescer em progressão geométrica, quando os recursos cresciam em progressão aritmética), não se concretizou. Depois, este foi também o tema central do relatório "Os Limites do Crescimento" do Clube de Roma, em 1972. E hoje, quando o mundo enfrenta a primeira grande crise da era da globalização, o assunto volta a estar na ordem do dia.
E no entanto, se pensarmos um pouco, poderemos concluir que tanto Malthus como a equipa de Denis Meadows (Os Limites do Crescimento) poderiam estar certos nas suas previsões. E que o tempo vai acabar por lhes dar razão. Com efeito, na época de Malthus não se conheciam as grandes reservas energéticas (combustíveis fósseis); e as previsões do Clube de Roma ainda hoje não podem ser desmentidas, por não ter decorrido o tempo suficiente.
O que provocou o grande aumento populacional dos últimos 100 anos foi o grande crescimento económico, a revolução verde e o desenvolvimento tecnológico. Mas a perfeita correlação entre aumento populacional e consumo energético deixa claro que foi a disponibilidade de uma energia abundante e barata (sobretudo o petróleo), a verdadeira causa deste extraordinário crescimento.
Porém, que acontecerá se um dia faltarem os recursos para sustentar um tal crescimento populacional? Como é que poderá ser contido esse crescimento? Naturalmente, baixando a natalidade, ou aumentando a taxa de mortalidade ou as duas coisas ao mesmo tempo. Seja qual for a opção, as consequências são imprevisíveis. Porém, uma coisa parece certa: se os limites forem ultrapassados, e nós não formos capazes de fazer a regulação, o planeta vai encarregar-se de a fazer.
Em Portugal, a população mantém-se mais ou menos estável desde 1960 (cerca de 10,5 milhões) . Mas a estrutura da nossa pirâmide etária modificou-se muito, devido a vários movimentos: emigração nos anos 60, guerra colonial, retorno dos portugueses de África nos anos 70, fluxos imigratórios a partir dos anos 90. Ao mesmo tempo a taxa de natalidade baixou assustadoramente, e como consequência a população portuguesa envelheceu muito, e vai continuar a envelhecer nos próximos anos.
Como é que Portugal vai lidar com as consequências deste envelhecimento populacional ? Quais os custos para o Estado social? Como iremos conter as pressões migratórias dos países pobres e sobrepovoados , sobretudo dos países do norte de África, da Ásia e da América Latina?
Não podemos meter a cabeça na areia e ignorar esta realidade. É hoje evidente que os recursos disponíveis (energéticos, hídricos e minerais) não poderão acompanhar as previsões do crescimento populacional global. O progresso tecnológico, também ele, tem limites. Teremos de passar a consumir menos, e de reaprender a andar a pé, e a cultivar a terra.