Com vénia ao dr. Luís Queirós
Presidente da Marktest e membro da ASPO Portugal
Aos que já perceberam a insustentabilidade do actual modelo económico, baseado na exigência do crescimento contínuo do PIB mundial, coloca-se uma questão angustiante: poderemos nós evoluir (ou transitar) para uma nova ordem económica (ou um novo modelo de sociedade) de forma gradual , ou está o actual sistema condenado a colapsar de forma brusca e inesperada?
Robert L. Hirsh, no seu famoso relatório de 2005 para o US Department of Energy, diz que a transição para uma economia pós-carbono necessita de 10 a 20 anos de preparação . Porém hoje muitos acreditam que as coisas se irão precipitar, e que já não dispomos dum tão largo prazo, para fazer essa preparação. Responsáveis e influentes personalidades falam num horizonte de 5 anos, ou menos, para se alcançar uma situação de ruptura.
Ainda recentemente (em meados de Abril passado) um jornal inglês, O Guardian, citava fontes do Departamento da Defesa Norte Americano, que alertavam para que, em 2015, poderá haver graves falhas de abastecimento de petróleo, e que o “déficit” entre a procura e a oferta poderá chegar aos 10 milhões de barris por dia. Acrescentava a mesma fonte que o preço do crude superará os 100 dólares por barril. Ora, isto equivale a anunciar um cenário de colapso iminente.
Por estas razões ganham força as teses do colapso, atraindo um crescente número de adeptos. Entre eles está o antropologista americano, Joseph Tainter, autor do livro “Colapso das sociedades complexas” e autoridade reconhecida nessa matéria. Foi ele que disse que o colapso ocorre quando os custos da complexidade começam a superar os benefícios. E, mais recentemente, destacam-se os escritos de Dimitry Orlov, um engenheiro e escritor nascido na Rússia, que vive nos Estados Unidos mas acompanhou de perto a crise dos anos 90, quando colapsou o regime da antiga União Soviética.
Orlov tem alertado para a trajectória da economia americana, que ele considera estar na rota de um colapso semelhante ao que aconteceu na antiga União Soviética. E fundamenta esta convicção nos elevados gastos militares, no déficit crescente, no pico do petróleo e na incapacidade dos dirigentes políticos norte americanos encontrarem uma resposta para a crise.
Acrescenta ele que, em certas circunstâncias, o colapso pode ser a resposta mais adequada para corrigir uma distorção. Pois o colapso não implica, forçosamente, uma destruição geral, ou um “crash” populacional, ou mesmo uma total desorganização social. Nem, necessariamente, o fim da civilização. O colapso é a ruptura da barragem, quando os “remendos” já não seguram a força da enchente. Quando apenas uma intervenção de fundo, (por exemplo uma reconstrução com um projecto novo) pode resolver o problema.
Mas o colapso será sempre traumático, algo que se compara a uma tragédia pessoal (doença grave, divórcio ...) perante a qual o ser humano reage por sucessivos estados, os quais são, no modelo da psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross, os seguintes: 1) a negação 2) a angústia 3) a mitigação 4) a depressão, e finalmente 5) a aceitação.
Do mesmo modo, Orlov identifica 5 fases ou estágios na ocorrência do colapso económico derivado da escassez de petróleo.
1. Colapso financeiro. Perde-se a fé no sistema financeiro. Começamos a ter a sensação de que os nossos activos financeiros não estão assegurados. As instituições do sector começam a degradar-se e torna-se cada vez mais difícil o acesso ao crédito.
2. Colapso económico. Começa-se a perder a fé nos mecanismos do mercado. O dinheiro desvaloriza-se ou torna-se escasso, as empresas comerciais entram em dificuldades, e começam a sentir-se na pele as dificuldades do dia a dia. Aumenta o desemprego
3. Colapso político: o Estado deixa de ser visto como a garantia da ordem social. Os governantes deixam de ter legitimidade. A democracia associa-se à incapacidade governativa, e fica em risco.
4. Colapso social. O estado social deixa de garantir subsídios e protecção social. O serviço nacional de saúde desagrega-se. As reformas baixam ou perdem valor. Começa a aparecer a ideia do “salve-se quem puder”…
5. Colapso cultural. Perdemos a fé na solidariedade dos seres humanos. Vêm ao de cima as piores características dos indivíduos. Escasseiam a bondade, a generosidade, a consideração, os afectos, a honestidade, a hospitalidade e a compaixão.
O mundo actual assemelha-se a um porco anafado. Se continuar a comer, corre o risco de ficar paralisado e sucumbir. Para sobreviver, terá forçosamente de passar a comer menos. Mas se lhe derem comida, ele nunca deixará de comer.