quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Faunos 2

Organizam-se batidas pelos montes, para abater o Bicho-mau. E os reverendos reuniram em Viseu, a comando do bispo, para analisar e exorcisar o monstro. 
Quando regressou a casa, padre Dâmaso, o mais dogmático, ortodoxo e empedernido do conclave, encontrou uma carta da irmã com quem vivia, a pedir mil perdões por ter partido, para seguir "o homem que Deus trouxe ao meu caminho". Mas por fim lá veio uma vizinha, a mãe da jovem Silvana, a oferecer-lhe os seus préstimos.
"Entardecia. Silvana saiu e entrou com o cantarinho cheio, direita, esgalgada, donairosa, argumento supremo das bondades do Criador. Veio-lhe um desejo insuperável de tornar a ver diante de si, bem de frente, os olhos grandes e joviais, que deixavam descortinar, como vidraças, o fundo calmo, limpo de terrores e metafísicas, duma alma singela e amorosa, e chamou:
- Dás-me água, Silvana?
Acercou-se a mocinha e, submissa como as escravas de Abraão, dobrando o cântaro no próprio ombro, à maneira bíblica das aldeias, lhe matou a sede..."

Discurso narrativo luxuoso para limitado assunto; vastíssima riqueza lexical, com modos e expressões populares de carácter local e regional da Lapa (feliz de mim, que os bebi da minha avó, ao contrário dos leitores comuns!); uso e abuso de vastas descrições que desequilibram a narrativa sem ganhos de maior, fatigam o leitor e chegam a exasperá-lo. Um fruto secundário na obra de Aquilino, que ainda se lê com proveito e algum regalo.