domingo, 29 de outubro de 2017

Gatos

Foi quando pude dormir no sótão duma casa de fidalgos, no centro de Viseu. Era a casa da Prebenda, e o simples nome diz tudo.
As magnólias e as camélias ramalhavam de noite. Eu a ouvi-las e a pensar nos doze gatos que dormiam em sofás, e comiam a pescada melhor que as criadas traziam do mercado.
Uma manhã, um dos filhos que tinha a minha idade perguntou-me qualquer coisa de aritmética. E ficou surpreendido por eu lhe ter adiantado a correcta resposta.
Eu deixei andar, esqueci o ramalhar nocturno das japoneiras e das magnólias, voltei a casa na camionete da carreira pela mão da minha mãe.
Mas isto era apenas o início da história. P'ra quê recordar o resto, doloroso e indigesto.